segunda-feira, maio 28, 2007

O Óbvio Ululante salta aos olhos do POP

Eis que o verbo se fez livro, em capa couché brilhante. Apesar de composto por textos anteriores ao meu nascimento, não fui eu, nem foi Rodrigues, nem foi você quem inventou o óbvio. Óbvio. Agora, que o meu título é anterior, isso é. Óbvio. Será que algum editor andou esbarrando no OUSOIN e "teve" uma idéia genial? Pouco óbvio, mas já que a possibilidade de eu receber algum royalty é nula, poderia pelo menos receber uma graninha do Submarino por cada clique no livro, não é óbvio?






Os textos que resultaram em O Óbvio Ululante são um mergulho do autor em sua própria história e foram publicados entre 1967/68. Parágrafos de ritmo peculiar, referências cotidianas e banais, mistura de permanência e efemeridade e freqüentes digressões, raramente encontradas em páginas de literatura pura. Nelson, óbvio. Rodrigues, ululante.

quarta-feira, maio 16, 2007

Há quem diga que o amor é tudo

Não costumo publicar material que não tenha sido produzido por mim, mas essa tirinha do Malvados é imperdível. Algo para pensar...



segunda-feira, maio 07, 2007

Goodbye Ruby Tuesday

Conheci uma menina chamada Rubi. O que a torna digna de menção honrosa na minha crônica pessoal é a sua heróica habilidade de atacar o capitalismo selvagem em sua base, sem o menor pudor, no seu calcanhar-de-aquiles lógico, por assim dizer. Sem titubear um segundo em suas convicções.

Rubi foi demitida nada menos que oito vezes, contabilizando apenas os empregos registrados em carteira. Se na conta fossem inclusos todos os trabalhos temporários, de meio período, bicos, empreguetes, frellances e biscates em geral, o número tornaria-se vergonhoso demais para que eu, pobre bunda mole, pudesse contar a história sem me sentir um vendido, zeloso que sou pelo meu emprego.

Convém dizer que a maioria dos rompimentos empregatícios deu-se por “justa causa”, e disto ninguém poderá discordar, já que jamais foi explicado se a causa justa era a sua ou a do patrão. Tento relatar aqui, o melhor que posso, as peculiares sutilezas que antecederam a última demissão, do banco em que trabalhava.

Naquele dia, lá pela hora do almoço, entrou na agência bancária um senhor de idade, idade avançada, porque não sei quem inventou que dizer que uma pessoa é “de idade” é o mesmo que dizer velha. Deixando de lado minhas teorizações lingüísticas, o que importa é que o velhinho foi ao banco para pedir um empréstimo. Nada de incomum, não fosse o fato de que o empréstimo tinha como única finalidade ser depositado na conta poupança do desinformado senhor. “Para quê o empréstimo, se ao colocá-lo na poupança, o senhor pagará muito mais juros ao banco do que este lhe pagará por confiar-lhe seu dinheiro que, na verdade, não é exatamente seu, e sim do banco?” Desnecessário dizer que o humilde homem nada entendeu, o português bem utilizado na argumentação de Rubi é definitivamente pouco acessível. Numa tentativa desesperada de não parecer um completo ignorante, o velho responde: “Mas e seu eu precisar de repente?” “Nesse caso o senhor vem até aqui e faz o empréstimo, na mesma hora.”

A esta altura o pobre homem não sabia se era pior passar por completo desinformado dos assuntos monetários ou louco estúpido. Ao pesar bem o peso de cada uma das palavras da última frase em sua mente, decidiu ficar com a primeira opção; nunca é tarde demais para aprender, e sempre é muito o tempo da loucura. Agradeceu à boa moça e foi-se embora, sem tomar o empréstimo.

Quando dizem que tudo na vida é uma questão de ponto de vista, acho que querem dizer que tudo é uma questão de quem ganhou e quem não ganhou. Para Rubi, era uma satisfação espalhar o bom-senso pelo mundo; para sua gerente, que havia assistido à cena toda calada, era uma vergonha uma funcionária tão pouco comprometida com o bom desempenho da empresa. “Por quê você não fez o empréstimo?”, finalmente dispara a gerente. “Porque o que ele estava pedindo era loucura.” “E o que te importa se era loucura ou não? Isso é um banco, não um sanatório!”

Como disse antes, Rubi sofre do grave defeito de viver de forma honesta com suas crenças e valores. A gerente já ia virando as costas para ir cuidar de outras coisas quando a moça retorque, cheia de autoridade: “Já passou pela sua cabeça que esse homem provavelmente trabalhou duríssimo a vida toda, ganhando muito menos que o necessário para viver dignamente, sendo sugado por um modelo social que no fim das contas não lhe deu nada em troca, e que tudo de que ele não precisa agora é de outro sanguessuga a lhe beber o sangue?”

A chefe para de costas por um instante, e subitamente vira-se, com o mesmo sangue, não a ser sugado ou escorrendo, mas injetado em seus olhos: “E você já pensou em procurar emprego numa instituição de caridade?” Pobre Rubi, que não aprendeu a fina arte da hipocrisia tão bem quanto aprendeu a da retórica. “A julgar pela disposição dos bancos em bem distribuir a riqueza, provavelmente teríamos os mesmos clientes.” Um golpe bem colocado, daqueles de pôr abaixo qualquer argumento adversário, bem como o conforto de receber fixamente um salário todo começo de mês.

Tanto é assim que a gerente já estava serena quando disse: “Já chega. Passe no RH para assinar sua demissão. Ou melhor, trabalhe até o fim do expediente, mas saiba que não vai receber por ele.” Os bancos nunca mudam.

Bem lá no fundo, disse-me Rubi, ela sentiu até uma certa satisfação de não ter mais que trabalhar num lugar que a fazia ter vontade de vomitar. “E como você vai pagar o aluguel agora?”, perguntei. Ela deu de ombros. Menina de coragem.

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