A Publicidade Travestida Faz Seu Trotoir
Quando se está de saco cheio, nada melhor que protestar contra algo extremamente irrelevante para a maioria das pessoas “normais”. Pois bem: quero protestar contra a absoluta babaquice que está contaminando as escolas de propaganda. Falo com conhecimento de causa, e principalmente, com aquela raiva que ainda não passou, pulsando nas veias como tambores aborígines em rituais extasiantes. Raiva que as tediosas aulas de Marketing, Planejamento Disto,Gestão Daquilo & Cia. sabem como ninguém injetar em mim.
Sei da importância de se conhecer o mercado onde se atua, das análises estatísticas com gráficos tridimensionais e todo o blá-blá-blá que permanece basicamente o mesmo desde que Kotler decretou que para vender bastante não é necessário um bom produto ou serviço e sim uma boa consultoria. O problema é que o blá-blá-blá está deixando de ser blá-blá-blá e virando o discurso principal. Tenho cada vez mais nítida a impressão de que somos treinados não para encontrar formas criativas de dizer para o público por que comprar o produto X, e sim para encontrar “soluções mercadológicas” para desencalhar o produto do cliente, que por sinal é péssimo ou sem nenhuma diferenciação, custe o que custar.
Em outras palavras, suprir a falta de capacidade dos famigerados “empreendedores-que-cursaram-conceituados-MBAs” de criar produtos e serviços vendáveis. O resultado disso é que os publicitários têm cada vez mais compromisso com as sérias leis regentes do mercado e cada vez menos com a criatividade. Se propaganda criativa não vende, porque ao invés de fazer comerciais engraçados não passamos a entregar aos clientes potenciais completíssimos relatórios sobre como nos saímos bem na análise mercadológica das forças competitivas e sobre como nossa supply chain bem integrada nos permite economizar cada vez mais no processo produtivo? Sério, se recebesse em minhas mãos uma análise SWOT bem estruturada e colorida, compraria sem hesitar até mesmo sorvete no Pólo Norte. Você não?
É realmente muito triste ouvir dizerem (se não explicitamente, com certeza impregnando o discurso) que na propaganda não há mais lugar para a ousadia, a irreverência, e principalmente, as sacadinhas. Ora, vamos! Eu me interessei por Publicidade justamente por causa das sacadinhas infames! E é delas que o público gosta, acreditem os sisudos CEOs ou não. Se alguém vai comprar ou não alguma coisa por causa delas, é uma outra história, e talvez até assunto para uma discussão sobre o que a propaganda pode e não pode fazer.
Agora, o que campanha nenhuma deveria esquecer, por mais alinhada que esteja com as novas tendências da comunicação, é da criatividade e do tesão pelo que se faz, ingredientes que vão muito bem em qualquer lugar, exceto, aparentemente, nos luxuosos escritórios onde são decididos os rumos da comunicação. E que atire a primeira estatística quem não acha que a propaganda está perdendo a graça.
Marcadores: capitalismo selvagem, propaganda, publicidade
4 Comments:
Grande texto, irmão capitalista. Realmente, o nível da comunicação moderna (publicidade, jornalismo e tudo relativo a isto) atingiu níveis lamacentos.
Agora, tente imaginar quase tudo que você escreveu, só que sem os conceitos puramente econômicos. Sem os meandros comunicacionais. Chega-se então ao ponto cabuloso em que nós estudantes de filosofia estamos metidos.
Realmente, defendo a idéia de que qualquer coisa está inserida na Filosofia, arte maior de pensar o que afinal de contas fazemos nisso que convencionaram chamar de Universo. Discutir a babaquice em níveis filosóficos renderia no mínimo um tratado de 600 páginas, para falar apenas do que vimos de 1º de janeiro até agora. E ainda é capaz de não caber. Por isso, limitei-me humildemente a teorizar no contexto da minha pretensa área de estudos, apesar de a cada dia pensar que seria mais vantajoso descobrir um método de extrair todos os nutrientes de que preciso da cerveja caseira.
vc so ta falando que publicidade ta ficando sem graça pq não viu a campanha do vestibular desse ano.
Mas mesmo assim, quem foi o quadrúpede que colocou aquele fundo azul?
Podia ter sido um branquinho... ou preto. Mas azul?
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