quarta-feira, junho 13, 2007

A Publicidade Travestida Faz Seu Trotoir

Quando se está de saco cheio, nada melhor que protestar contra algo extremamente irrelevante para a maioria das pessoas “normais”. Pois bem: quero protestar contra a absoluta babaquice que está contaminando as escolas de propaganda. Falo com conhecimento de causa, e principalmente, com aquela raiva que ainda não passou, pulsando nas veias como tambores aborígines em rituais extasiantes. Raiva que as tediosas aulas de Marketing, Planejamento Disto,Gestão Daquilo & Cia. sabem como ninguém injetar em mim.

Sei da importância de se conhecer o mercado onde se atua, das análises estatísticas com gráficos tridimensionais e todo o blá-blá-blá que permanece basicamente o mesmo desde que Kotler decretou que para vender bastante não é necessário um bom produto ou serviço e sim uma boa consultoria. O problema é que o blá-blá-blá está deixando de ser blá-blá-blá e virando o discurso principal. Tenho cada vez mais nítida a impressão de que somos treinados não para encontrar formas criativas de dizer para o público por que comprar o produto X, e sim para encontrar “soluções mercadológicas” para desencalhar o produto do cliente, que por sinal é péssimo ou sem nenhuma diferenciação, custe o que custar.

Em outras palavras, suprir a falta de capacidade dos famigerados “empreendedores-que-cursaram-conceituados-MBAs” de criar produtos e serviços vendáveis. O resultado disso é que os publicitários têm cada vez mais compromisso com as sérias leis regentes do mercado e cada vez menos com a criatividade. Se propaganda criativa não vende, porque ao invés de fazer comerciais engraçados não passamos a entregar aos clientes potenciais completíssimos relatórios sobre como nos saímos bem na análise mercadológica das forças competitivas e sobre como nossa supply chain bem integrada nos permite economizar cada vez mais no processo produtivo? Sério, se recebesse em minhas mãos uma análise SWOT bem estruturada e colorida, compraria sem hesitar até mesmo sorvete no Pólo Norte. Você não?

É realmente muito triste ouvir dizerem (se não explicitamente, com certeza impregnando o discurso) que na propaganda não há mais lugar para a ousadia, a irreverência, e principalmente, as sacadinhas. Ora, vamos! Eu me interessei por Publicidade justamente por causa das sacadinhas infames! E é delas que o público gosta, acreditem os sisudos CEOs ou não. Se alguém vai comprar ou não alguma coisa por causa delas, é uma outra história, e talvez até assunto para uma discussão sobre o que a propaganda pode e não pode fazer.

Agora, o que campanha nenhuma deveria esquecer, por mais alinhada que esteja com as novas tendências da comunicação, é da criatividade e do tesão pelo que se faz, ingredientes que vão muito bem em qualquer lugar, exceto, aparentemente, nos luxuosos escritórios onde são decididos os rumos da comunicação. E que atire a primeira estatística quem não acha que a propaganda está perdendo a graça.

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4 Comments:

At 1:26 PM, Anonymous Anônimo said...

Grande texto, irmão capitalista. Realmente, o nível da comunicação moderna (publicidade, jornalismo e tudo relativo a isto) atingiu níveis lamacentos.
Agora, tente imaginar quase tudo que você escreveu, só que sem os conceitos puramente econômicos. Sem os meandros comunicacionais. Chega-se então ao ponto cabuloso em que nós estudantes de filosofia estamos metidos.

 
At 5:40 PM, Blogger Lord Lino said...

Realmente, defendo a idéia de que qualquer coisa está inserida na Filosofia, arte maior de pensar o que afinal de contas fazemos nisso que convencionaram chamar de Universo. Discutir a babaquice em níveis filosóficos renderia no mínimo um tratado de 600 páginas, para falar apenas do que vimos de 1º de janeiro até agora. E ainda é capaz de não caber. Por isso, limitei-me humildemente a teorizar no contexto da minha pretensa área de estudos, apesar de a cada dia pensar que seria mais vantajoso descobrir um método de extrair todos os nutrientes de que preciso da cerveja caseira.

 
At 8:17 PM, Blogger Fabio said...

vc so ta falando que publicidade ta ficando sem graça pq não viu a campanha do vestibular desse ano.

 
At 2:12 AM, Anonymous Anônimo said...

Mas mesmo assim, quem foi o quadrúpede que colocou aquele fundo azul?
Podia ter sido um branquinho... ou preto. Mas azul?

 

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