terça-feira, janeiro 16, 2007

Lord Lino e o Sentido da Vida - Parte 4 (E Última)

Voltava abatido, formulando mil teorias puramente pessimistas. No dia seguinte, precisaria do carro para um compromisso importante, e não teria tempo de consertá-lo antes de sair para o trabalho. "Maldita sociedade de consumo perfunctório, que produz carros que quebram à toa", pensava eu. O próximo passo era amaldiçoar os folgados que não estavam à minha disposição, num domingo quente como aquele: "Como será possível que não haja nenhum lugar aberto capaz de realizar um simples conserto de bateria, em pleno domingo? Desde quando ficar vendo futebol e bebendo cerveja é melhor do que trabalhar insanamente?"

Não sei por que, de repente, passou pela minha cabeça que o calor escaldante e/ou a exaltação psicótica em que me encontrava poderiam estar fazendo com que eu criasse teorias cretinas, baseadas no egoísmo tão em voga desde... bem... não sei dizer precisamente quando o egoísmo virou a bola da vez. Talvez com o descobrimento da própria bola.

Esclarecido por essa reflexão altruísta, decidi mudar a linha de abordagem do meu pequeno tratado mental, e, munido de boas doses de conhecimento do método da livre associação e retardamento mental, comecei a pensar que a chave para o problema poderia estar contida extamente no conceito de bola /esfera / circunferência, elemento primordial e perfeito. " O novo sistema de produção e organização social deve basear-se num círculo, onde todos estão à mesma distância do centro e ligados entre si, num elo infindável de trabalho colaborativo." Restava apenas batizar meu novo modelo. Nomes fortes como "Cirucuncracia" e "Bolialismo" tornavam a escolha penosa, por isso resolvi deixar essa difícil tarefa para depois e concetrar-me em algo mais simples, como meu plano para convencer a humanidade a adotar meu sistema recém desenvolvido.

Golpes de Estado e violência estavam fora de cogitação, queria uma conversão voluntária. Fazendo jus à auto-imagem criativa que tenho, idealizei várias alternativas, mas a única que coube no meu modesto orçamento é esta que vocês podem ver, a publicação desta soporífera história no meu blog. Com direito à divisão por capítulos e tudo. Com a pífia taxa diária de leitores que tenho, calculo que o mundo deva ser um lugar melhor lá por 2382.

E querem saber o que houve com meu carro? Bem, como a ironia é a causa primeira de toda a existência, há uma certa beleza singela no desfecho dessa sucessão de infortúnios. Ia eu absorto na concepção das minhas táticas para divulgação do meu modelo de vida mais humanitário, quando ouvi: "Moço!Moço!" Virei-me para ver se era comigo. "Eu vi você perguntando da oficina lá no posto de gasolina... Tentei chamar sua atenção, mas acho que você estava tão distraído que não ouviu!" E aqui faço uma pausa para uma consideração importante: dedicar-se a solver os achaques do mundo não é um mar de rosas todo o tempo. Ela continuou: " Eu sei onde é a oficina-que-tem-o-mecânico-que-mora-dentro-e-não-se-importa-em-prestar-socorros-automotivos-aos-domingos!"

Ela me explicou a localização, que estranhamente não era muito longe de onde eu estava, e o resto correu sem maiores transtornos ou algo digno de ser mencionado. Achei o tal mecânico, que obviamente cobrou um adicional alegando que "era um domingo quente demais", mas não fiz caso, pois já estava preparado para pagar mais caro, dado meu desespero aparente.

Mais tarde, já no shopping, percebi como foi infeliz a idéia que tive pela manhã e lembrei-me logo por que odeio shopping centers. A multidão parecia absorta numa angústia inexplicável, como que procurando naquele ambiente arborizado e amigável ao consumo a resposta para suas perguntas mais viscerais.

Depois, no estacionamento, nova surpresa: a bateria estava descarregada de novo! "Ótimo, pelo menos agora sei que tudo que tenho que fazer é trocar a bateria." Já estava sem forças para praguejar, como faço habitualmente. O shopping ficava no topo de uma ladeira, e minha casa é na direção da descida, por isso empurrei o carro até a saída, coloquei na "banguela", e deixei a vida correr. Lá em baixo, quando acabou o embalo, encostei o carro e em questão de cinco minutos, encontrei uma alma caridosa que emprestou-me seu cabo de baterias e gentilmente deu uma carga na do meu carro, serviço que há algumas horas tinha me custado os olhos da cara.

Quando cheguei em casa, nada preocupava-me mais do que espalhar a boa nova que tinha para o mundo. O ponto é mais ou menos o seguitne: em um mundo colaborativo, bastaria eu pedir para algum vizinho ajudar-me com o carro. Aliás, num mundo colaborativo, a maioria de nós andaria de carona, num veículo movido por algum combustível não poluente. Quem sabe em 2382. Esse vai ser "o" ano.

ps: se você teve a paciência de ler as quatro partes da história (o que acho muito difícil) e agora sente-se ultrajado porque só enrolei e não esclareci de fato o sentido da vida, perdoe-me. Eu também não sei. Mas se alguém souber, por favor me diga, e eu posto aqui.

ps2: Dias mais tarde, descobri que o problema com meu carro não era na bateria, e sim na ventuinha, cebolão ou algo do gênero. Vai entender...

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Apenas um Insight

Apenas 1 outdoor é retirado no 1º dia de limpeza em SP

Estou pensando em lançar uma campanha: Cidade Bonita de Verdade é Cidade sem Político Ladrão.

No dia em que nosso amado povo brasileiro não se deixar distrair por picuinhas idiotas e exigir seriedade desses palhaços de terno e gravata metidos a salvadores da pátria, talvez as coisas melhorem um pouco. Mas só um pouquinho.

E a limpeza na corrupção, quando vai ser?

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