sexta-feira, junho 29, 2007

Crônica de Uma Nação Atormentada

Não sei por que insisto em gastar parte do pouco tempo de vida propriamente dita que tenho escrevendo, ou melhor, vomitando bobagens do meu cérebro atormentado. Em todo caso, desta vez quis fazer algo diferente, e, ao invés da habitual lamúria existencialista o que saiu foi o que penso ser uma crônica, com direito a personagens-com-nomes-triviais-que-falam-errado e tudo o mais. Em tempo: a estorinha é baseada em fragmentos de realidade que presenciei pessoalmente (lindo pleonasmo para reforçar que o excesso de trabalho e aporrinhação ainda não estão me fazendo imaginar coisas. Além do mais, e se eu tivesse presenciado no Second Life? Hein? Presenciar sem estar realmente presente? Presenciar virtualmente? Anyway, esse parêntese já ficou longo demais para que o que vem depois possa fazer algum sentido, portanto sugiro recomeçar a frase, rir brevemente da minha falta de conhecimento gramatical e ignorar esse comentário estúpido. Juro que não planejava um parêntese tão longo, mas não consigo evitar) e qualquer verossimilhança não é nem de longe mera coincidência. Algo para pensarmos...

Três amigas, nem estonteantemente belas e gostosas, nem de todo desprezíveis, nem miseráveis, nem ricas, sentadas numa mesa de barzinho após algumas cervejas:
- Então, Flávia... comprou ou não comprou aquela calça que você tava querendo?
- Comprei, menina. Paguei os olhos da cara, mas comprei.
- Aquela linda, do shopping? – procura saber a terceira.
- Essa mesmo.
- Mas e aí, já usou?
- Ainda não... experimentei depois que comprei e parece que ela não caiu tão bem quanto na loja...
- Nossa! Será que a vendedora trocou? No Brasil, não duvido de nada... Dá até raiva morar aqui, né?
As três riem descontraídamente.

- Há! Por falar em Brasil, vocês não sabem da pior!
- O quê?
A terceira amiga faz uma pequena pausa de suspense e continua:
- Esses dias a minha empregada passou mal e tive que levar ela de carro pra casa.
- Nossa, ninguém merece!
- Pois é! E ainda por cima ela mora super longe! Mas então: no caminho da casa dela teve uma hora que a gente parou num semáforo, e um pivetinho com cara de bandido que tava na calçada começou a me encarar.
- Caramba, e daí?
- Ele não parava de me encarar, e eu já tava entrando em pânico, quase tendo um ataque de histeria!
- Não dá mais pra sair de casa hoje em dia! Mas e aí, ele te assaltou?
- Não... o sinal abriu e eu arranquei com tudo. E ele ficou lá na calçada, parado. Mas tenho certeza que ele ia me assaltar. Certeza.
- Neguinho safado...

Nesse momento, Eduardo, o único homem que acompanhava as amigas, volta à mesa e senta.
- E aí, meninas: se divertiram muito enquanto eu tava no banheiro?
- Não... e você? – Flávia tinha um tom provocativo.
- Opa! Não tem nada melhor que dar uma mijada depois de tanta ceveja!
As mulheres trocam um rápido olhar e devolvem, quase em uníssono:
- Creeedo, Du! Seu insensível!

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1 Comments:

At 10:19 AM, Anonymous Anônimo said...

Ótima crônica, Lino. Voltei a escrever, depois de quase um mês de inércia inútil. Entre lá no Distopia e comente.
Sobre a sua crônica, a moral da história (se é que pode haver uma) é: com toda certeza, as mulheres não são inferiores aos homens. Mas mijar em pé faz inquestionavelmente alguma, senão toda, a diferença.

Abraço.

 

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