segunda-feira, outubro 15, 2007

Sobre Quando Uma Luz Se Acende

É impressionante como algumas palavras, ditas na hora certa, no lugar certo e pela pessoa certa podem mudar o mundo, subverter a lógica cartesiana, derrubar dogmas ou até mesmo decidir o futuro profissional de alguém.

Ultimamente venho sofrido num círculo vicioso de falta de tempo, falta de fazer o que gosto e falta de tesão. Há tempos tento entender onde foi que perdi aquela coisa que não sabemos como chamar direito, mas que não podemos perder, custe o que custar. Nessas reflexões é impossível evitar lembrar de onde viemos, e para quê viemos.

Penso na minha geração, na "velha guarda" da minha geração, na old school. Éramos um bando de moleques sem a mínima noção do que é a vida, mas estávamos dispostos a descobrir por conta própria, e de preferência através de conversas metafísicas na mesa do bar. Com juras de nunca trairmos nossos ideiais, ainda que confusos e carentes de estilo, fomos ficando mais velhos e seguindo cada um o seu caminho. O tempo passou, mais rápido do que parecia que passaria, e admito que durante muitas vezes achei que tudo era uma grande bobagem de garotos sem nada pra fazer, que como estava amadurecendo devia deixar isso para trás. E assim fui virando adulto. E assim fui virando uma pessoa sem muito pelo que lutar. Mas as lembranças talvez sejam a desgraça e salvação dos homens, porquê elas estavam o tempo todo lá, para me lembrar que nem sempre foi assim, que um dia eu pensava em fazer o que gosto, e talvez ganhar algum dinheiro com isso. E não ganhar dinheiro com certeza, e talvez fazer o que gosto. Nunca fui tão inocente a ponto de acreditar que dinheiro é desnescessário, mas fui inocente a ponto de acreditar que poderia mudar aquilo que sou.

Aquilo que sou. Acho que o moleque irrequieto, angustiado e boca-suja nunca vai deixar de fazer parte de mim, porque ele sou eu. E eu adoro, entre outras coisas, regurgitar baboseiras filosóficas (isso fica claro com a leitura de qualquer outro texto meu). O grande problema até então é que na minha atual carreira isso não pode ser transformado em dinheiro, pelo contrário, é indesejável.

Conversando com um amigo com quem não falava há muito tempo, perguntei como iam as coisas pra ele, quais eram as perspectivas de carreira, expectativas em relação à vida. Fiquei surpreso ao saber que, mesmo percorrendo um caminho muito diferente do meu, as conclusões dele eram praticamente as mesmas que as minhas. Ele, assim como eu, gosta mesmo é de aprender, pesquisar e talvez escrever ou produzir alguma coisa que possa ser aproveitada por alguém algum dia. Fazendo uma breve recapitulação das amizades que fiz um pouco antes de entrar e no começo da faculdade, percebo que quase todos meus bons amigos também são metafísicos de botequim de cerveja barata. E que a maioria deles quer tirar proveito disso na profissão.

Essas idéias deixaram-me mais perturbado que o normal, mas também fizeram muito bem, já que por causa delas fiz uma coisa que há muito não faço: acordei mais cedo, deixei a rotina de lado, e registrei meus sofismas obscuros para a posterioridade ou até que o Google os apague. E ganha um doce quem adivinhar o que eu quero ser quando crescer.


PS: apesar de tudo, terminei a tempo de ir para o trabalho. Afinal de contas, ainda tenho contas.

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1 Comments:

At 10:12 AM, Anonymous Anônimo said...

O mais cômico de tudo isso é que, no final das contas, só se pode ser verdadeiramente livre quando você não depende de ninguém - financeiramente, ideologicamente, etc - ou seja: somente agora, que somos escravos do capitalismo é que podemos filosofar sem culpa com liberdade.
Quando éramos muleques, tínhamos mais verve, é verdade. Mas quem éramos nós pra falarmos de filosofia quando nem mesmo poderíamos comer sem a ajuda dos nossos pais?
O chato é isso: descobrir que quando você finalmente pode pôr a boca no mundo, não restam muitos motivos para fazer isso.

 

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